Na fria manhã de quarta-feira, tomei o ônibus escolar e sentei-me ao lado da aluna da APAE, único lugar disponível, como sempre. Notei que a barriga de grávida dela havia desaparecido, mas não quis comentar. Fiquei pensando como ela poderia estar de volta para a escola em tão pouco tempo, afinal, a licença maternidade é um período bastante longo.
Após alguns minutos, ela sacou um álbum e mostrou-me a foto de um recém-nascido: “Meu filho”. Então, senti abertura para o assunto. Perguntei o nome, ela me falou. Depois começou a dizer algumas coisas que não eu não compreendia.
– Onde está a criança? – Eu perguntei.
E ela me respondeu:
– Com “uma mulher” que nem olhou na minha cara.
No começo pensei que fosse alguém que estivesse incumbida de cuidar do bebê, mas alguma coisa me dizia que havia algo mais. Perguntei quando ela iria ver o filho e ela me disse:
– Nunca mais. Apenas amamentei duas vezes e nunca mais o vi.
Ficamos em silêncio por um tempo, e enfim arrisquei:
– Você queria dar o seu filho?
– Não. – Ela me disse com os olhos tristes.
Posso imaginar os motivos que a família teve para dar a criança, mas o fato de trazer a foto consigo e me mostrar me diz que ela nunca mais vai se esquecer do filho que lhe foi tirado.
E foi assim que comecei o dia: com os olhos rasos de lágrimas.